Não debaixo do meu telhado. Essa é a postura da maioria dos pais americanos diante dos filhos adolescentes e suas vidas sexuais. O cuidado e a preocupação descrevem a abordagem dos pais à sexualidade de sua prole. Não queremos eles fazendo isso – o que quer que seja 'isso’ – em nossas casas.
De forma nada surpreendente, o sexo adolescente é fonte de conflito em muitas famílias americanas.
Se adotassem posturas mais abertas sobre sexo e sobre o que é permitido sob o teto da família, estariam os americanos aumentando a paz em suas casas e fortalecendo os laços familiares? Entrevistei 130 pessoas, todas brancas, de classe média e não particularmente religiosas, como parte de um estudo sobre sexo adolescente e vida em família – aqui e na Holanda. Minha análise das diferenças culturais sugere que a vida em família poderia ser muito aprimorada, para todos, se os americanos tivessem ideias mais abertas sobre o sexo adolescente. A questão de quem dorme onde, quando um adolescente traz um namorado ou namorada para passar a noite, encaixa-se no mundo mais amplo de ideias culturalmente divergentes sobre sexo, luxúria e capacidade de amar dos adolescentes.
Kimberly e Natalie dramatizam as diferenças culturais na forma como as meninas jovens experimentam sua sexualidade (mudei seus nomes para proteger a confidencialidade). Kimberly, uma americana de 16 anos, nunca recebeu educação sexual em casa. “Deus, não! Não, não! Isso não vai acontecer”, disse. Ela gostaria de contar aos pais que ela e o namorado vêm fazendo sexo, mas acredita que, para seus pais, é mais fácil não ficar sabendo – pois a verdade poderia “manchar” sua imagem de “princesinha” diante deles.
Natalie, que também tem 16 anos mas é holandesa, não contou imediatamente aos pais quando teve a primeira relação sexual com seu namorado de três meses. Pouco tempo depois, porém, ela quis compartilhar a boa notícia. No começo seu pai ficou perturbado e preocupado com sua filha e honra.
“Converse com ele”, a mãe disse a Natalie; depois que ela o fez, seu pai fez as pazes com a mudança. Essencialmente, Natalie e sua família negociaram uma mudança de vida e descobriram, juntos, como se ajustar às novas circunstâncias.
Respeitando o que ela entendeu como a política de sua família, do tipo 'não pergunte para não saber’, Kimberly só dormia com o namorado na casa dele, quando não havia ninguém em casa. Ela gostava da companhia dele, mas não gostava de manter esse segredo de seus pais. Em contrapartida, Natalie e seu namorado aproveitavam o tempo e uma nova proximidade com a família dela; o fato de seus pais saberem e aprovarem seu namorado parecia uma fonte de prazer.
A diferença em suas experiências vem de ideias culturais divergentes sobre sexo, e sobre o que pais responsáveis deveriam fazer a esse respeito. Aqui, vemos os adolescentes como vítimas indefesas, assolados por hormônios furiosos, e achamos que os pais devem protegê-los de vontades incontroláveis. A situação é agravada pelo estereótipo de que todos os meninos querem a mesma coisa, e todas as meninas querem amor e carinho. Isso deixa os pais com a obrigação de afastar os adolescentes de relacionamentos que lhes farão mais mal do que bem.
Os pais holandeses que entrevistei consideram os adolescentes, meninas ou meninos, como capazes de se apaixonar, e de avaliar racionalmente sua própria disposição para o sexo. Pais holandeses, como os de Natalie, conversam com seus filhos sobre sexo e consequências, aconselhando-os a usar preservativos e praticar o sexo seguro.
As diferenças culturais sobre o sexo adolescente são mais complicadas do que os velhos clichês, retratando americanos puritanos e europeus permissivos.
Na verdade, normalizar ideias sobre o sexo adolescente permite que os holandeses exerçam maior controle sobre seus filhos. A maioria dos pais que entrevistei desestimulavam ativamente o comportamento promíscuo. E os adolescentes da Holanda mostraram muito do que vemos como costumes da década de 1950: ansiosos por obter aprovação, eles citam seus parceiros em conversas, apresentam-nos aos pais e os ajudam a criar impressões mais favoráveis.
Alguns adolescentes holandeses chegaram a expressar suas ideias sobre sexo e amor em termos conscientemente tradicionais; um garoto holandês afirmou que a vantagem de passar a noite com uma parceira era que isso se parecia com “o pai e mãe, como quando se é casado, você também acorda ao lado da pessoa que ama”.
Normalizar o sexo adolescente sob o teto da família abre o caminho para uma educação sexual mais responsável. Numa pesquisa nacional, sete em cada dez meninas holandesas afirmaram que, aos 16 anos, seus pais haviam conversado com elas sobre gravidez e contracepção. Parece que essas conversas ajudaram os adolescentes a se preparar, responsavelmente, para vidas sexuais ativas: de cada dez meninas holandesas, seis declararam estar usando pílulas anticoncepcionais quando tiveram sua primeira relação. O amplo uso de contraceptivos orais contribui a menores taxas de gravidez na adolescência – número quatro vezes menor na Holanda do que nos Estados Unidos.
Obviamente, namorados dormindo juntos não são uma rota direta à felicidade familiar. Mas até mesmo os pais mais tradicionais podem apreciar a virtude de se ter seus filhos trazendo confortavelmente seus parceiros para casa, em vez de precisarem fazer tudo escondido.
Diferente dos adolescentes americanos que entrevistei, que declararam ter de separar suas vidas sexuais de seus papéis familiares, os adolescentes holandeses tinham uma chance de integrar diferentes partes de si mesmos em sua vida em família. Quando filhos se sentem seguros o bastante para contar aos pais o que estão fazendo e sentindo, provavelmente é muito mais fácil que eles peçam ajuda. Isso permite que os pais tenham maior influência, podendo controlar através do vínculo.
A maturidade sexual é estranha e difícil. A experiência holandesa sugere que é possível, para uma família, se manter conectada quando os adolescentes começam a fazer sexo – e se isso acontece, a transição para a vida adulta não precisa ser tão dolorosa para pais e filhos.
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